O Ser Humano Anônimo

-Olá, meu nome é...
-Nasci em...
-Tenho tantos anos e moro no bairro tal...
esqueça!
-Não sou cego, mas não vejo.
-Sou surdo? muito menos, mas não escuto.
-Porém, não sou mudo e nem sequer falo.
-No entanto, louco não sou, mas não penso, e, se penso, que horror, não penso. Pois louco não sou.
-Não sou aleijado, contudo não ando, mas sou maltratado.
-Não sou rico, pois me acho um descraçado.
-Eu, eu mesmo, vivo perambulando pelas encruzilhadas dessa vida mesquinha e sem sentido, desse mundo de guerras, tristeza, dor e dividido.
-Emprego? não tenho.
-Mendigo? acho que sou.
-Não tenho dinheiro, comida não como, vestes sujas e rasgadas.
-Água? bebo, pois a fome passa por enquanto.
-Não tenho familia, e se tenho, nunca conheci.
-Infelizmente amigo: "não vejo, não escuto, e não falo,
não ando, sinto fome e com isso, não penso, muito menos tenho dinheiro".
-Mas ainda há uma esperança, pois ainda me considero alguém...

   Esse texto foi do Coletivo Desclassificados aqui do Recife, publicado no Zine que eles fazem.
 Esse texto me lembra uma experiência que tivemos com meninos de rua: a gente perguntou se eles tinham algum sonho, eles disseram que não tinham nenhum. Será que apenas não souberam responder? Eles também disseram que achavam aquilo que estava acontecendo com eles  normal. Fizemos um vídeo sobre essa experiência e outras que tivemos durante o curso de Direitos Humanos, na ONG Casa de Passagem. O vídeo se chama "O Brasil que não fala".
     Potagem da Equipe do Blog.

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